Por um País de todxs de fato!

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Nossa democracia tem apenas três décadas e é fruto especialmente da luta dos movimentos sociais no Brasil. O País enfrenta muitos e complexos problemas, mas é importante destacar que, nos últimos dez anos, vimos alguns avanços que, mesmo não sendo completamente satisfatórios, são importantes para a garantia dos direitos civis e humanos de nossa população. Houve redução na miséria e desigualdade social; incentivo ao acesso da população de baixa renda à educação e aos serviços de saúde; queda na taxa de desemprego; lésbicas, gays e transexuais finalmente tiveram reconhecidos direitos como união estável, por exemplo; os direitos das trabalhadoras domésticas viraram lei; a popularização do acesso à internet e dispositivos eletrônicos tem nos permitido a expressão e troca de ideias; entre outras questões. Parte destes avanços beneficiam particularmente as mulheres, a população negra e LGBT.

Por outro lado, aumenta a sensação entre ativistas dos direitos humanos de que quanto mais o povo, especialmente pobres, negros, mulheres e LGBTs, conquistam seus direitos e assumem posições sociais e políticas importantes no cenário nacional, evidencia-se a ira de conservadores e fundamentalistas que se armam na tentativa de conter e fazer retroceder tais avanços.

Recentemente, acompanhamos estupefatos ao recrudescimento de discursos, atitudes e crimes de ódio em nossa sociedade. Movimentos e grupos sociais são criminalizados e impedidos de se manifestar e expressar; projetos de lei são criados para reduzir a maioridade penal e estimular o encarceramento em massa; ‘justiceiros’ espancam e amarram pessoas em postes; homossexuais são atacados e mortos diariamente colocando o Brasil como líder no ranking internacional de crimes homofóbico; crescem as ameaças e discurso de ódio nas redes sociais; a laicidade do Estado é constantemente violada por políticos e lideranças religiosas. Ações estas resultantes de ideais conservadores e fundamentalistas evidentemente ligadas à elite branca, política, econômica e religiosa no Brasil.

Todo esse movimento contrário à liberdade individual, ao desenvolvimento do processo democrático e à diversidade também aparece no discurso das pessoas envolvidas com a organização da Marcha da Família, convocada para o último sábado (22) em mais de 200 cidades brasileiras. O ato foi inspirado na Marcha com Deus pela Família e pela Liberdade realizada às vésperas do Golpe Militar de 1964, fundador do sombrio regime que ceifou centenas de vidas e torturou tantas outras. O principal motivo que levou os ‘manifestantes’ daquela época a irem às ruas é o mesmo utilizado hoje como se pode ver nas inúmeras matérias que a mídia fez sobre: conter o avanço do comunismo no Brasil, combater a corrupção por meio da instauração de uma intervenção militar e defender a manutenção da família cristã heterossexual, monogâmica e indissolúvel. Pela ‘família’, a Marcha também quer que seja criminalizado o aborto, extinta a ‘ditadura’ gay (?) e endurecidas as penas contra usuários/as de drogas.

Mas essas pessoas – o perfil de algumas está exposto na internet – não se dão conta de que só estão podendo expressar seu desejo de um País pior porque há liberdade de expressão.

Enquanto defensoras dos direitos humanos não podemos lhes negar o direito de se expressarem, mas podemos lutar contra suas ideologias conservadoras.

Por isso, grupos estão se organizando para se contrapor à Marcha da ‘Família’. No dia 31 de março, dia em que se completa 50 anos do Golpe que deu início a Ditadura Militar, entidades ligadas aos direitos humanos organizarão outro o ‘Ditadura Nunca Mais’. Informações no evento do Facebook: https://www.facebook.com/events/1417863918465801/?fref=ts

Pois em um País em que Paivas, Mércias, Amarildos, Cláudias, Kaiques e tantas outras vidas foram e são sistematicamente violadas pela ação ou omissão do Estado e pelas ações insufladas pelo discurso do ódio e pelo desrespeito à diversidade na sociedade, as vozes que falam mais alto devem ser aquelas que lutam pela democracia, contra a ditadura do pensamento único e defendem os direitos humanos de todxs.

Pela democracia e liberdade de todxs, somos contra a Marcha da ‘Família’.

Católicas pelo Direito de Decidir