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Se não por direito, ao menos por compaixão — Católicas pelo Direito de Decidir

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Se não por direito, ao menos por compaixão

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Por *Maria José Rosado é presidenta de Católicas pelo Direito de Decidir

Diante da grave situação de saúde deflagrada no País pela disseminação do Zika vírus e a sua vinculação com o aumento dos casos de microcefalia, as declarações públicas da hierarquia católica têm revelado, uma vez mais, o caráter misógino da instituição.

Estamos no ano do jubileu. O papa Francisco declara um tempo de misericórdia na Igreja. Não é misericórdia o que tem demonstrado a hierarquia católica no Brasil. Sua palavra tem sido impiedosa, sem qualquer comiseração pela morte física, psíquica e emocional de muitas mulheres.

Uma mulher grávida contaminada pelo zika vírus pode gestar uma criança com microcefalia ou outras possibilidades de má formação. Será justo obrigar essa mulher a levar sua gravidez adiante? Isso é ser cristão? Será que temos o direito de decidir pela vida de outras pessoas dessa maneira?

A ciência não consegue diagnosticar a microcefalia nos primeiros meses da gestação. Esse é o angustiante drama que tem apavorado as mulheres brasileiras grávidas.

No âmbito jurídico, pelo benefício da dúvida, o réu não pode ser condenado até que se prove sua culpa. Também no campo teológico, o chamado Probabilismo, parte da mais antiga tradição doutrinária do acervo cristão, afirma que onde há dúvida deve haver liberdade.

Frente a uma decisão ética difícil, é correto que cada pessoa recorra à própria consciência para tomar sua decisão. Esse é o respeito à liberdade. A condenação ao aborto na Igreja Católica não é uma questão de dogma, mas sim de disciplina moral.

Como pode a Igreja não compreender que o aborto, por seus aspectos morais, éticos e religiosos deve ser tratado na esfera privada de cada pessoa, e nunca como diretriz para imposições sociais?

Como é possível que os bispos não percebam que a proibição do aborto é seletiva e injusta socialmente, porque recai sobre as mulheres pobres e negras que vivem na periferia, sem as condições de saúde básicas, as mais sujeitas à epidemia do zika vírus?

Se é impossível à Igreja reconhecer que é direito das mulheres o controle sobre sua capacidade de gerar novos seres humanos, seja, ao menos, capaz de compaixão, virtude tão cara ao Cristianismo.

Reunidos em recente discussão sobre o grave problema que assola o Brasil, outros líderes religiosos demonstraram respeito às mulheres e compreensão por seu sofrimento. Se não chegam a apoiar a ampliação da legislação relativa ao aborto, propõem o debate com a sociedade e têm a humildade de declarar a questão em aberto, reconhecendo que são as mulheres as que devem ser ouvidas pelas igrejas, como disse o Presidente da Aliança dos Batistas no Brasil, Joel Zeferino, ao afirmar: “Precisamos colocar a voz das mulheres nessa discussão”.

Em excelente artigo publicado nestes dias, uma premiada jornalista brasileira Eliane Brum dá uma impressionante lição de lucidez. Faria bem a muitos bispos ler seu texto, em sua integralidade. A certa altura, diz ela:

“Escutar é justamente debater. Aqueles que não querem debater aborto no Brasil precisam assumir que não se importam com a prisão e a morte de mulheres jovens e pobres, a maioria delas negras, já que estes são os fatos. Precisam assumir também que não se importam que o acesso ao aborto reproduza a desigualdade racial e social do Brasil, ao tornar-se acessível e seguro para quem pode pagar, e criminalizado e mortífero para quem não pode. Quem se importa, debate os fatos. E escuta a posição do outro, mesmo que seja muito diferente da sua. Viver é mover-se”.

Seu convite é para que nos coloquemos na pele do outro. Das outras, neste caso. Serão os bispos capazes disso? Será a Igreja Católica capaz de assumir verdadeiramente a sua missão evangelizadora que impõe ser o próprio espelho de seu anúncio?

Texto publicado originalmente da Revista Carta Capital: https://www.cartacapital.com.br/sociedade/se-nao-por-direito-ao-menos-por-compaixao