A visita do Papa Francisco ao Brasil e a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em julho, preocupam, pois podem contribuir com o fortalecimento dos grupos conservadores e a crescente ofensiva contra os fundamentos democráticos do Estado laico. Os fundamentalistas religiosos no país vêm criando sucessivos obstáculos aos avanços dos direitos humanos das mulheres e das pessoas LGBTT. Esses grupos conservadores tentam interferir na aprovação de leis e na implementação de políticas públicas favoráveis a estes direitos, e reforçam o conservadorismo moral, a desigualdade de gênero e a intolerância religiosa. Além disso, buscam o retrocesso de direitos já conquistados, especialmente, os direitos sexuais e direitos reprodutivos.
Sabemos que o Acordo Brasil-Vaticano, feito sem a participação da sociedade, tem tido um impacto negativo no compromisso governamental, especialmente do executivo federal, com as políticas públicas relacionadas com os direitos sexuais e os direitos reprodutivos. A omissão e o silêncio do executivo sobre estes direitos demonstram que governo está refém deste acordo.
Já grupos conservadores católicos também têm se organizado e vão promover uma campanha em defesa da vida na JMJ, apesar de saberem que um número considerável de jovens católicos são críticos em relação ao posicionamento da Igreja sobre os direitos sexuais e direitos reprodutivos. Aliás, tal campanha tem como princípio a defesa da vida humana desde o momento da concepção, mesmo argumento proposto em projetos de lei como o Estatuto do Nascituro, que desconsideram as graves consequências para a saúde e vida das mulheres.
Mesmo que tais eventos tragam ganhos financeiros ao país – há a expectativa de que 2,5 milhões de jovens de todo o mundo comparecem aos eventos – é questionável a formação de comissão ministerial e o uso de recursos públicos para a realização destes eventos.
Os gestos, símbolos e declarações do novo Papa sinalizam um novo projeto para a Igreja. Grande parte dos católicos que se encontravam frustrados com os graves escândalos de pedofilia, corrupção e intrigas entre os altos cargos da hierarquia católica, agora têm novas expectativas com os sinais de Francisco, que indicam mudanças para um projeto de igreja mais austero e voltado para o serviço, para as necessidades dos pobres, o que pode ser oportuno em um mundo de incertezas e de crises.
Mas, qual será o alcance da declaração de Francisco em relação à sua identificação com os pobres? Entre esses pobres estão as mulheres e a população LGBTTI? Estarão contemplados os seus direitos, especialmente os relacionados com os direitos sexuais e os direitos reprodutivos?
Somente se esses sinais se concretizarem em mudanças de olhares e de práticas da igreja em relação aos direitos das mulheres e das pessoas LGBTTI, poderemos dizer que este Papado está preocupado com as causas da justiça, já que a desigualdade de gênero e a discriminação, por orientação sexual e identidade de gênero, produzem exclusão, sofrimento e pobreza e impede uma vida justa, plena e saudável para todos cidadãos e cidadãs.