Por Católicas pelo Direito de Decidir
Páscoa, na tradição judaico-cristã, significa passagem. É momento de celebrar possibilidades de mudança, de construção da liberdade e afastamento de situações que, de alguma maneira nos escravizam.
Nesta Páscoa não queremos falar das situações de injustiça – principalmente aquelas que envolvem as mulheres – são muitas, e todos os dias precisamos estar alertas para denunciar, e fazer valer nossos direitos. Hoje, vamos apenas contemplar, reconhecer, identificar e usufruir dos tantos passos positivos que fazem uma passagem para o crescimento da dignidade de mulheres e homens.
Apesar de todas as contradições que presenciamos diariamente, há muita coisa para celebrar nesta Páscoa. Uma delas é o reconhecimento da autonomia das mulheres que têm se dado em diferentes setores sociais.
Os esforços para que as mulheres sejam autônomas e usufruam de uma cidadania integral são cada vez maiores. Já superamos uma época em que as feministas sozinhas precisavam lutar pelo direito ao voto, ao acesso à academia, ao fim da divisão sexual do trabalho, à presença das mulheres na política, na vida econômica e social, a viver sem violência e ao direito ao próprio corpo. Não porque todos esses direitos tenham sido alcançados, mas sim, porque hoje, essa agenda já não é só do feminismo. Temas que antes eram tratados como tabu, hoje são cotidianamente discutidos em nossos ambientes sociais, escolas, empresas, instituições, condomínios, bairros populares, meios de comunicação, partidos, igrejas, etc…
Esse é um claro sinal de que avançamos, e não só como mulheres feministas, mas como sociedade: cada vez há mais empenho na busca de um mundo menos absurdo e irracional, e se constroem novos mecanismos legais para controlar quem não respeita a cidadania. Não se trata de uma visão simplesmente otimista, mas de reconhecer esforços vindos de muitas partes: dos movimentos sociais, das profissões que se organizam, dos/as políticos honestos, dos setores religiosos que se opõem aos poderes institucionais, das professoras que ainda acreditam que o ensino-aprendizagem é um caminho para a mudança, dos defensores do meio ambiente e da vida animal, da população LGBTTI que se organiza, das mulheres jovens, adultas e idosas que criam seus filhos e netos, trabalham e fazem a vida acontecer, enfim são muitos os que caminham na contra corrente.
Nós, mulheres católicas feministas, felizmente estamos nesse rumo, somos parte dessa multidão que quer fazer um caminho novo e nessa Páscoa, momento de passagem, queremos homenagear e apoiar a decisão de um setor profissional que hoje é fundamental para garantir a autonomia das mulheres e sua saúde sexual e reprodutiva.
O Conselho Federal de Medicina (CFM), com seus 27 conselhos regionais, que representam 400 mil médicos brasileiros, deliberou por maioria ser favorável ao direito das mulheres à interrupção da gravidez até a 12ª semana de gestação. A proposição do CFM pauta-se na afirmação da autonomia das mulheres, no respeito aos seus direitos mais elementares e na realidade de sofrimento e ameaça à saúde e à vida que significam os abortos clandestinos, especialmente para as mulheres pobres do nosso país.
Hoje, vivemos a PÁSCOA, são gestos como este que transformam a nossa história.