Por Católicas pelo Direito de Decidir
Neste momento em que celebramos o dia de luta pela legalização do aborto, queremos compartilhar nossa reação às palavras do Papa Francisco em sua entrevista concedida recentemente.
Recebemos a declaração do Papa Francisco, em entrevista a revista “La Civiltà Cattolica”, afirmando que a religião tem o direito de expressar suas opiniões, mas não de “interferir espiritualmente” nas vidas de gays e lésbicas, como um alento, um soprar de novos ventos na Igreja.
Queremos expressar nossa satisfação pela Igreja Católica ter manifestado que o plano de seu trabalho pastoral deva ter “…como mensagem central do Evangelho: o amor e a misericórdia de Deus” como diz o Evangelho de Lucas.
Reconhecemos na figura do Papa Francisco, perspectivas e esperança de uma igreja mais dialógica que se deixa interpelar pela realidade. Retomar do Concilio Vaticano II a figura da Igreja como “povo de Deus, em caminho com suas dores e gozos” encerra um projeto de Igreja. É significativo que ele reafirme o desejo de ver uma Igreja capaz de escutar o próximo, de levar em conta como primeiro momento teológico a realidade concreta das pessoas, de fazer prevalecer em primeiro lugar o princípio da misericórdia. Sem dúvida, encontramo-nos com uma nova figura e um modelo pouco conhecido de ser Papa: reconhece sua fragilidade e seus erros, realidades comuns a todo ser humano. Frente a questões controversas e difíceis para a Igreja, como o aborto e a homossexualidade, surpreendentemente, sua palavra não é de julgamento e condenação, mas de acolhida e escuta. Uma mudança significativa. Fala da necessidade de aproximar-se, entender a realidade concreta da pessoa como primeiro momento de um diálogo: “O anúncio do amor salvífico é prévio à obrigação moral e religiosa”, diz ele.
Entendemos, entretanto, que a Igreja tem ainda um desafio a enfrentar: respeitar e reconhecer os direitos das pessoas homossexuais, e essa atitude vai além da misericórdia. Trata-se de um reconhecimento das diversas formas de amar; trata-se não somente de aceitar ou tolerar as pessoas homossexuais, mas de abençoá-las. Esperamos também que um dia a doutrina católica possa estar voltada à compreensão das mulheres que abortam, entendendo que muitas vezes esta é a solução que se apresenta a elas como eticamente válida. Que a atitude de humanidade e misericórdia do Papa possa conduzir a hierarquia a respeitar a dignidade das mulheres, a ouvir nossas construções teológicas, a ter uma atitude verdadeiramente dialógica. Essa é nossa esperança.
Vemos o Papa sensível à realidade humana e acreditamos que o tempo nos mostrará os caminhos que a igreja vai seguir… Continuamos atentas…
Neste momento, as palavras do Papa nos parecem um passo significativo para uma igreja mais aberta; para nós, motivo de esperança e alegria!