Por Regina Soares Jurkewicz, coordenadora
Hoje no Brasil, as católicas não são somente um grupo de mulheres. Somos, sobretudo uma corrente de pensamento, presente em quase todos os estados brasileiros, e teimosamente afirmamos, há mais de 20 anos neste país, que é possível ser católicas e feministas ao mesmo tempo.
Estamos articuladas com o movimento de mulheres, somos parte desse movimento, e simultaneamente expandimos uma voz católica que entende a sexualidade humana como algo bom, como fonte de vida pra todos. Trabalhamos com o pensamento teológico da própria Igreja Católica e, a partir daí, enriquecemos nossa argumentação em favor dos direitos sexuais e reprodutivos de homens e mulheres.
Em nossos dias um dos maiores desafios que se apresenta ao movimento feminista é a ação organizada do fundamentalismo religioso, pensamento único que se coloca na política, na vida universitária, constrói organizações e movimentos, e busca representações no Congresso Nacional. Setores de diferentes Igrejas Evangélicas e Católica se unem para impor um pensamento de controle sobre a vida das mulheres, a diversidade das famílias e das vivências da sexualidade. Para que esse pensamento se imponha nas diferentes esferas sociais, os ativistas conservadores não hesitam em utilizar discursos religiosos que possam legitimar e normatizar comportamentos desde uma perspectiva ligada à moral sexual tradicional.
Muitas vezes para isso são utilizadas frases bíblicas, de forma descontextualizada, um falso discurso de direito à vida, posições agressivas, xingamentos e ameaças às pessoas ativistas que defendem os direitos das mulheres, a efetivação de políticas públicas, o direito à autonomia.
O tema mais controverso é o aborto. Os fundamentalistas levantam uma falsa pergunta: se as pessoas são favoráveis ao aborto… Digo que é uma falsa pergunta, porque o que se pretende no feminismo é a legalização do aborto, o que traria para o país, sem dúvida nenhuma, um menor número de mortes maternas e também um menor número de abortos. O que queremos é garantir condições de segurança e saúde, quando uma mulher chega a abortar. Os países que implementaram essa lei como, por exemplo, o Uruguai, mostram em suas estatísticas uma queda significativa nos índices de morte materna e número de abortos.
Para tanto contamos com a legitimidade da teologia católica que nos ensina há séculos o chamado recurso à própria consciência. No cristianismo a responsabilidade individual deve ser respeitada e, portanto, as decisões individuais não podem ser impostas por outros. Nem um padre, bispo e nem mesmo o Papa podem “mandar” na consciência de uma pessoa. A relação frente a temas eticamente difíceis se faz diretamente com Deus. Por isso afirmamos neste 8 de março que o Direito de Decidir é Sagrado!
Assim, como mulheres católicas, caminhamos em meio ao amplo movimento de mulheres, buscando conquistar direitos e mais dignidade.
Artigo publicado na Edição nº 20 da Revista Geni: https://revistageni.org/03/o-que-querem-as-catolicas-pelo-direito-de-decidir/