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Somos mulheres. Todas nós. — Católicas pelo Direito de Decidir

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Somos mulheres. Todas nós.

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NÃO SOU BELA
NÃO SOU RECATADA
NÃO SOU DO LAR
SOU MULHER

Pelos caminhos em que ando, entre companheiras feministas, minhas alunas, alunos e colegas de trabalho, sou a Zeca. Ou, Zeca Rosado. Venho de uma família de tradição católica. Por vários anos, fui religiosa católica, freira, como se costuma chamar no Brasil. Desde meus 19 anos, já no convento, me sustento com meu trabalho, do que muito me orgulho. Professora, sempre. Do lar, nunca. Por escolha. Outras mulheres, colegas inclusive, no convento ou em outros espaços, amigas, gostavam e gostam de arrumar casa, cozinhar… nunca foi meu forte. Sempre gostei de pensar. De ler. De discutir. Elas também, claro. Somos todas, além de cheias de desejos e sonhos, seres pensantes – ainda que imaginem que somos apenas seres capazes de fazer e cuidar de outros seres humanos, sem reflexão, sem decisão, apenas porque a biologia nos fez assim. Mas, principalmente, me senti sempre partícipe da sociedade em que nasci e vivo. Como um dever. E assim, me fiz feminista, ademais de ser daquele grupo que se identifica como “de esquerda”. Acho que isso, ao invés de haver caducado com o tempo, tornou-se cada dia mais necessário, para que não se confundam aquelas e aqueles que querem justiça social, direitos para todas e todos, tratamento igual diante da lei, respeito aos direitos humanos, democracia, enfim, e aqueles e aquelas que defendem direitos para si e para suas famílias e invocam um deus à sua imagem e semelhança.

Este não é um depoimento narcísico, uma auto referência, mas uma declaração política. Uma declaração política indignada, diante daqueles que nos querem indo ao cabeleireiro e ao restaurante, com seguranças vigilantes aos possíveis assaltos de pobres e negros ameaçadores. Como religiosa, vivi em regiões pobres do país. Convivi com prostitutas, pelas quais tenho o maior respeito e de quem tenho saudades. Nunca puderam ir de carro buscar suas filhas e filhos nas escolas, mas cuidavam deles com desvelo. Mães que são. Por isso, nunca admiti que se usasse o termo puta como xingamento. Bem disse o Chico: De que me vale ser filho da santa, melhor seria ser filho da outra… Convivi com os chamados povos da floresta. Com os lutadores do movimento sem terra. Que gente dura, forte, sabedora de que são cidadãs e cidadãos deste país e que um pedaço deste solo, mãe gentil, lhes pertence por direito. Também com mulheres do lar. A maioria, com muitas filhas e filhos, várias abandonadas por seus parceiros. Iam às reuniões das comunidades de base da Igreja Católica porque a fé é seu sustento. E porque queriam um futuro para seus filhos. Um futuro com dignidade, possibilidade de estudo, uma profissão, trabalho que lhes permitisse sustentar-se e viver com alegria, lazer, saúde, essas coisas que a maioria das pessoas deseja e a que tem direito em um país decente e justo. Isso, faz muitos anos e acredito que suas vidas tenham mudado para melhor, com o bolsa-família, as quotas, o ProUni, o Luz para todos, enfim, esses projetos sociais que tornaram a vida de milhões de brasileiras mais cheia da esperança de que o país do futuro tivesse enfim, chegado.

Hoje, minha interlocução mais frequente é com as companheiras de militância feminista, política e com universitárias. Não as vejo como recatadas, belas – Algumas são! – e restritas ao lar. Não participariam dos movimentos sociais, nem estariam na Universidade. E os títulos que já tem não são apenas um enfeite na parede. Elas usam seus títulos para exercer uma profissão.

Não quero saber se sou bela ou não. Não quero ser recatada. Não sou do lar. Prefiro espelhar-me numa mulher corajosa que enfrentou uma ditadura militar e assumiu comandar um país gigante por natureza, cheio de problemas, que ela quer ver melhor para todas e todos.

Somos mulheres. Todas nós. Feias, belas, avançadas, recatadas, com roupa no joelho, de shortinho, do lar, da rua, da casa, da política, do bairro, da praça pública, do Planalto! Somos todas mulheres. Negras, indígenas, brancas, pentecostais, ateias, umbandistas, budistas, muçulmanas, sem religião, pobres, ricas, cis, trans. Quebradeiras de coco, pesquisadoras, economistas, balconistas, catadoras. Somos todas mulheres. E exigimos que nos respeitem! Que respeitem nossas escolhas. Desde há muito sabemos que as meninas más vão para onde querem. Com quem queremos. Vestidas como queremos.

Essas somos nós, que não merecemos – nem queremos – as capas dessa revista, mas nos orgulhamos de sermos quem somos.