Símbolo da resistência à ditadura, Dom Paulo Evaristo Arns, o arcebispo emérito de São Paulo, morreu nesta quarta-feira 14 de dezembro de 2016, aos 95 anos. Sua vida marcou profundamente a Igreja de São Paulo e esta cidade. Ele preferiu sempre as pessoas mais pobres, mais injustiçadas, mais perseguidas. Homem de coragem que falou com bravura, quando a ditadura brasileira nos calou. Abriu as portas da Cúria para quem o buscava, dedicou seus dias estimulando organizações de resistência, de defesa de direitos, familiares de perseguidos políticos e refugiados dos países do Cone Sul.
Quando Católicas nasceu em São Paulo, em 1993, agendamos uma audiência com ele, que nos recebeu carinhosamente dizendo: O que vocês precisam de mim? Aceitou nossas publicações, nos acolheu em sua diocese. Admirável D. Paulo. Em certa ocasião enfrentando toda a resistência da moral conservadora da Igreja, afirmou: “Em tempos de AIDS é melhor usar preservativo para salvar vidas” quando oficialmente a hierarquia católica condenava essa prática.
Esse era D. Paulo, destemido, cheio de esperança, corajoso!
O que diria ele nos dias de hoje aos nossos parlamentares que votaram pela aceitação da PEC-55, a chamada “PEC da morte”? Um dia antes da morte de D. Paulo, o Senado aprovou a PEC que prevê a estagnação, por 20 anos, dos recursos investidos em setores elementares como saúde e educação. Tal medida certamente vai piorar as condições de vida da população brasileira. O que diria D. Paulo sobre isso? Seguramente ele não ficaria calado.
Assim, nós também, Católicas pelo Direito de Decidir, não podemos nos calar nesse momento crítico de nosso país. Precisamos de homens e mulheres fortes, que tenham a coragem de não se calar frente aos absurdos que presenciamos no cenário político a cada dia.
As frentes de luta são muitas, resta às Igrejas sensibilizarem-se e soltarem sua voz em defesa da democracia, dos mais pobres, das mulheres violentadas, dos indígenas, dos gays, lésbicas e transexuais, dos migrantes, dos refugiados, dos negros e negras – que arcam com o peso do racismo – e de todos aqueles e aquelas a quem D. Paulo dedicou sua vida. Essa é a grande homenagem que a igreja brasileira, com seus padres e bispos, são chamados a fazer ao “Cardeal da Esperança”.
De nossa parte continuaremos a afirmar nossa identidade católica que nos move em defesa da vida de todas as mulheres e em respeito à sua capacidade ética para tomar decisões em todos os campos de suas vidas, sobretudo as mulheres pobres e negras que não contam com recursos que lhes permita viver com dignidade.
É tempo de luta, de enfrentamentos, coragem, audácia e lucidez, mas também de não perder as esperanças. Esse é o grande legado que nos deixou D. Paulo. A ele, nossa homenagem e compromisso!