Mulheres fazem ato no ABC paulista contra a criminalização do aborto

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Recentemente, nós mulheres, fomos surpreendidas pela atitude absolutamente antiética e irresponsável de um médico do Hospital de São Bernardo. Ele denunciou à polícia uma jovem, de 19 anos, que pediu ajuda no hospital após ter complicações por provocado um aborto de forma insegura. A jovem foi detida e liberada após pagar fiança.

O movimento de mulheres tem se organizado de diversas formas para dar apoio à jovem, para denunciar a atitude do médico, e cobrar das autoridades brasileiras que respeitem os direitos das mulheres de decidirem sobre suas vidas.

Nenhuma mulher deveria sofrer complicações por causa de um aborto inseguro. Mas se ela sofrer é DEVER do Estado de garantir sua saúde e não de colocar ela atrás das grades!

Foi criada uma petição na Avaaz cobrando do CREMESP (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) uma punição ao médico Mahumad Daoud Mourad que desrespeitou o artigo 73 do código de ética referente ao segredo médico paciente. Assine a petição neste link: https://secure.avaaz.org/po/petition/Conselho_Regional_de_Mecina_de_Sao_Paulo_CREMESP_Punicao_ao_medico_Mahumad_Daoud_Mourad/

Nesta sexta-feira, dia 27 de fevereiro, será realizado um ato contra a criminalização do aborto em frente ao Hospital na Rua Mármara, que fica próxima à Prefeitura de São Bernardo do Campo, SP.

A organização pede que a gente leve: bexigas, flores, velas, cabides, sangue cenográfico e/ou suco de beterraba e/ou tinta vermelha. O espaço será aberto também para manifestações artísticas.

Convidamos todas vocês a participarem desta manifestação em prol de todas nós!

Outras informações sobre o ato no Facebook neste link: https://www.facebook.com/events/1104736609600137

Para quem não tem Facebook, abaixo reproduzimos na íntegra o texto publicado no evento:

ATO CONTRA A CRIMINALIZAÇÃO DE MULHERES QUE INTERROMPERAM A GRAVIDEZ.

Dia 27 de fevereiro de 2015 às 16h30 mulheres solidárias a jovem de 19 anos, presa após procedimento médico no Hospital São Bernardo, se manifestará em repúdio ao procedimento do médico Mahmud Daoud Mourad, clínico geral e pediatra do Hospital em questão. O ato acontecerá em frente a este Hospital, na Rua Mármara, e tem por objetivo se posicionar contra a criminalização de mulheres que se posicionam diante da gravidez indesejada, interrompendo-a.

A jovem de 19 anos buscou apoio junto ao parceiro, no entanto, não encontrou. Fatos como este são mais rotineiros do que pensamos, recentemente Isabela, 22 anos, após levar adiante a gravidez indesejada pelo pai de seus filhos gêmeos, foi assassinada, bem como os bebês. Além deste fato, temos diversos outros, como o da mulher Josicleide Gomes de Souza, 37 anos, mãe solteira de dois filhos e vítima de óbito de prática de aborto ilegal, ao decidir interromper a terceira gravidez, mais uma vez o parceiro não desejava assistir, criar, educar uma nova geração ao seu lado. Outro caso que recentemente chamou nossa atenção foi o da adolescente Nathália dos Santos, mãe solteira de uma criança, e em 2012 foi vítima de aborto, quando engravidou novamente e o namorado atual decidiu com ela por realizar a interrupção da gravidez.

É preciso avançar no conceito de descriminalização da prática de aborto na sociedade contemporânea pois no cotidiano este é feito em larga escala, e de concreto sabemos: as mulheres morrem e agora começam a responder judicialmente como se fossem rés de uma sociedade hipócrita, altamente exigente quanto as atitudes da mulher e muito permissiva quanto as atitudes do homem.

Muitas mulheres morrem anualmente, em 2010, 81.9% dos óbitos computabilizados em morte materna eram ocasionados por complicações decorrentes do aborto ilegal, sendo que em Salvador e Petrolina o aborto inseguro foi a primeira causa de morte materna. Já na Paraíba, em 2013, a rede hospitalar realizou quase 4 mil curetagens, não podendo se explicitar quantos destes procedimentos foram espontâneos e quantos provocados. O estudo Aborto sem condição de segurança mostra que anualmente cerca de 68 mil mulheres morrem devido a prática de aborto inseguro, se procedimentos atitudinais como o do Dr. Mahmud Daoud Mourad, tornar-se habitual, mais mulheres morrerão, pois ao invés de um médico encontrarão nos ambulatórios a sentença moral, religiosa e patriarcal, pois nenhuma mulher engravida sozinha, é preciso de dois para que um embrião se forme e constitua a vida.

Junto a isso, não podemos nos esquecer dos diversos marco-regulatórios que apoiam às mulheres neste seu momento de vida, talvez o de decisão mais difícil. Destacamos, Plano Nacional dos Direitos Humanos(2009), Conferência Internacional da População e do Desenvolvimento das Nações Unidas ocorrida no Cairo(1994), IV Conferência Mundial das Mulheres em Pequim(1995) e sobretudo a Declaração Universal dos Direitos Humanos(artigos 1,3,12,19 e 27 –parágrafo 1) e Relatório sobre os direitos sexuais e reprodutivos ( 2001/2028).

Em escala planetária o Direito na Lei já está posto, cabe agora a Sociedade Civil organizada torná-lo costume; para tanto, faz-se necessário mudar os comportamentos, diminuir os julgamentos e espraiar a solidariedade e humanismo frente a condição da mulher na sociedade de classe contemporânea. Se houver afeto entre homens e mulheres haverá menos aborto, se houver respeito à mulher, haverá mais vida digna. Entre embriões, fetos, bebês e a vida da mulher, fica a pergunta: o que mantêm a vida viva? O desejo de ter um filho, de constituir uma família com alguém que valha a pena viver junto, por muito tempo? Alguém que compartilhe o desejo de assistir, criar, educar a vida que está se formando? Portanto é preciso julgar menos, não será prendendo às mulheres que avançaremos no debate e procedimentos deste tema difícil e cotidiano. Vale lembrar que a Holanda tem a taxa de aborto mais baixa da Europa, lá não há leis que restringem o aborto. A sociedade amadureceu, falar sobre sexualidade e aborto não é pecado capital, lá há educação sexual universal nas escolas, serviços de planejamento familiar de acesso fácil e fornecimento de contracepção de emergência. Por ora, aqui, desejamos de imediato a descriminalização do aborto, que as mulheres não saiam algemadas dos Hospitais, que os médicos não se sintam Deuses com o direito de declararem a sentença de morte em suas vidas. Que as mulheres também tenham direito à vida.

Concentração a partir das 16h30
Rua Mármara – São Bernardo do Campo – SP.

Nossa construção é horizontal e aberta a todas as mulheres. Pedimos àquelas que quiserem participar que tragam seus bexigas e gás hélio, flores, velas, cabides, sangue cenográfico e/ou suco de beterraba e/ou tinta vermelha. Tragam suas poesias, suas peças de teatro, sua intervenção artística, seu apoio.