Quando idealizamos a campanha Católicas na Luta pelo Estado Laico e contra os fundamentalismos imediatamente pensamos na parceira Elisa Gargiulo. A artista multimídia e proprietária da produtora Nosotras é conhecida pelo trabalho comprometido com os direitos humanos, em especial os direitos das mulheres. Um de seus principais trabalhos é o premiado documentário 4 Minas.
Elisa é responsável pela produção musical das cinco músicas que compõe nossa campanha. Nesta entrevista você vai conhecer um pouco mais de seu trabalho.
Católicas: O que veio primeiro o feminismo? Ou a arte?
Elisa: A música veio primeiro. Comecei com 11 anos quando pedi uma guitarra de Natal. Os homens em volta, mesmo da família, achavam que não tinha nada a ver, falavam pra eu fazer backing vocal. Ali me dei conta do mecanismo de divisão de trabalho entre homem e mulher. A partir dali comecei a fazer música, principalmente a trabalhar com composição que era um papel mais masculino. Como resistência.
Católicas: Quais suas referências?
Elisa: Toquei metal, depois punk, hard core. Em 2011, comecei a mexer com música eletrônica e hip hop. Tanto que em 2012, Luana Hansen e eu fizemos o Ventre Livre. Foi quando eu percebi que poderia fazer tudo sozinha só com um lap top, tive uma certa independência. Hoje estudo piano, entrei num conservatório, uma coisa mais clássica, para ajudar na composição.
Católicas: Como foi o processo de criação das músicas para a campanha de Católicas?
Elisa: A Brisa tinha linhas melódicas na cabeça, daí eu pegava essas notas pelo canto dela e eu sentava no piano para entender que tipo de harmonia poderia ser encaixada ali. No caso da Brisa a criação surgiu num momento de insônia! E quando ela ouviu a terceira versão de som que fiz, ela continuou a criação da letra. Mas cada música foi uma criação diferente. No caso da letra da Luana, eu fiz uma batida bem seca porque a letra é bem provocativa e queríamos algo mais dançante. Pensamos em fazer um som pra pista, pensamos num Moombahton, um dos estilos mais sexistas feitos no planeta, criado nos EUA em 2009, para subverte-lo fazendo música feminista. E por aí vai.
Católicas: Qual a importância de falar sobre fundamentalismo hoje no Brasil?
Elisa: O fundamentalismo ele obscurece o debate né? Ele quer colocar os problemas pra debaixo do tapete. E a música expõe o problema e a gente se recusa a esconder o problema. A música serve pra pronunciar coisas que o fundamentalismo obscurece.
Católicas: Como você acha que a música pode contribuir com transformações socioculturais no País?
Elisa: Minha resposta é muito simples. Se todos os artistas, homens e mulheres, do teatro, da música etc. tivessem desde o início se posicionando contra o golpe não haveria golpe no Brasil. Isso tem uma força muito grande porque quando um artista faz uma música política ele tá falando diretamente com a gente, sem intermediários, traduzindo para uma linguagem acessível assuntos que os governos querem manter complexos. Se não tem música você não consegue imaginar um mundo possível. Uma realidade sem opressão é desenhada pela música. A América Latina tem uma história vasta com músicas que mobilizam, que denunciam as opressões. Da chilena Violeta Parra até Chico Buarque. É uma das ferramentas mais fortes que tem.
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