O feminismo também é sobre a vida das mulheres cristãs

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#Especial8M | O feminismo é um movimento plural, diverso, e que tem se transformado ao longo do tempo, mas sempre mantendo como central a luta pela igualdade e a dignidade das meninas e mulheres. A realidade das meninas e mulheres são múltiplas, e exigem um olhar interseccional que contemple suas especificidades e vulnerabilidades. Sem abarcar as questões étnico-raciais, de classe, orientação sexual, entre tantos outros marcadores sociais, é impossível projetar uma sociedade democrática e justa.

Considerar a religiosidade de meninas e mulheres também é incluir uma extensa parcela da população brasileira. Nos movimentos sociais progressistas, a invisibilidade de mulheres religiosas tem se dissipado. Lentamente, temos conquistado espaço nos debates sociais e políticos para denunciar as inúmeras violações de direitos provocadas por uma fé cristã distorcida. É uma luta que Católicas pelo Direito de Decidir do Brasil, e de outros países da América Latina, vem pautando e reforçando há mais de duas décadas.

O fundamentalismo religioso é cúmplice da violência contra meninas e mulheres, da morte por abortos inseguros e clandestinos, e de tantas outras violações de direitos. Os setores fundamentalistas proferem uma suposta “defesa da vida” em abstrato, desconsiderando as realidades sociais e econômicas de milhares de meninas e mulheres brasileiras. Além disso, o discurso cristão embasa a formulação e orientação de políticas públicas, promovendo um verdadeiro esfacelamento da laicidade do Estado.

Todavia, não é verdade que a questão religiosa tenha que ser afastada do debate público. Pelo contrário: é por meio de ampla discussão e reflexão sobre religião, Direitos Humanos e Estado laico, que teremos a possibilidade de reconstruir a nossa laicidade e democracia. Nesses mais de vinte anos de atuação na América Latina, Católicas pelo Direito de Decidir vem disputando outras narrativas na Igreja Católica, de forma a denunciar o fundamentalismo, a violência clerical e tantos outros problemas. Para nós, os direitos sexuais e reprodutivos são sagrados.

Hoje, dia 08 de Março, é tempo também de lembrarmos das meninas e mulheres que se sentam ao nosso lado nos bancos das missas, cultos e outras celebrações religiosas. Meninas e mulheres que trabalham, estudam, sofrem, sorriem, amam e dançam suas vidas. Meninas e mulheres que comungam do nosso pão, que tomam do nosso vinho e que, muitas vezes, são tornadas submissas em suas comunidades de fé e silenciadas por líderes religiosos perante situações de violência.

Reiteramos que não há antagonismo entre as pautas defendidas pelo feminismo e as religiões cristãs, e que é possível ser feminista e professar uma fé que lute por dignidade, igualdade, justiça e por um mundo sem violências contra meninas e mulheres.

É pela vida dessas meninas e mulheres cristãs que o feminismo também luta. É pela dignidade de ter seus direitos garantidos, pela igualdade, o bem-viver e pela liberdade de decidir ser ou não ser mãe. Que esse “cale-se” tinto de sangue não toque nossos lábios e nem tampe nossas bocas. Rogamos, pela fé e pela luta, por uma sociedade mais justa.