Foram muitas as manifestações a favor e contra a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva nos últimos dias. Se, por um lado, houve quem quisesse emendar a prisão do ex-presidente em uma intervenção militar, por outro, diversos grupos religiosos do campo progressista, incluindo nós, Católicas pelo Direito de Decidir, se manifestaram contra as arbitrariedades de uma justiça seletiva e o Estado de exceção em que vivemos.
Em meio a esse cenário, eis que o papa Francisco ocupa a imprensa hegemônica. Na última Exortação Apostólica denominada Gaudete et Exsultate (Alegrai-vos e exultai), o papa convocou a sociedade para lutar por justiça social, em especial, a defesa dos pobres.
Parece-nos fundamental saber que setores tradicionalmente defensores dos pobres e oprimidos se levantam em uníssono contra o golpe. Além disso, sabemos que a igreja tem muitas vozes, e as que estão ao lado dos mais oprimidos se posicionaram fortemente nos últimos dias. Na esteira do ato ecumênico em defesa do ex-presidente Lula, ocorrido no último dia 07 de abril, em São Bernardo do Campo, diversas igrejas e grupos religiosos apoiaram a luta em defesa da democracia, entre eles, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), a Prelazia de São Félix do Araguaia, o Serviço Interfranciscano de Justiça, Paz e Ecologia (Sinfrajupe), as mulheres ordenadas da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Igreja Povo de Deus Em Movimento (IPDM). Como lembrou a IPDM, “Dom Angélico está do lado certo da História, como esteve Dom Paulo Evaristo Arns na celebração ecumênica, em 1975, pelo assassinato de Vladimir Herzog na Catedral de São Paulo e, nos anos 80, acionando a mídia contra a prisão de Lula.”
Para além da perspectiva histórica, as mulheres ordenadas da IEAB apontaram que Lula foi “condenado por crimes que seus julgadores e julgadoras jamais conseguiram provar, sem direito de recorrer às últimas instâncias em liberdade, culminando com sentença de prisão, na mesma época em que sua liderança política é reconhecida internacionalmente”. Sabemos que essa politização do sistema judiciário serve, entre outras utilidades, para amedrontar a população que luta por direitos. Neste sentido, a Prelazia de São Félix do Araguaia, em manifestação contra a prisão de Lula, disse que “nestes tempos temerosos, em que os servidores do sistema neoliberal buscam assombrar o povo por meio da pedagogia do MEDO, lembramos as palavras do Papa Francisco: ‘Esta economia mata!’”.
Na madrugada do dia 10 de abril, a fachada do Pateo do Colégio, local que marca a história de uma colonização católica genocida e imperialista, amanheceu com uma enorme frase pichada em vermelho, que dizia “Olhai por nós”. Seja nos muros da cidade, nos cartazes das manifestações ou na Internet, os gritos por justiça não podem ser calados pelas elites, que tentam esmagar a história de batalhas e sonhos legítimos desse país. Tais tentativas apenas fortalecem a unidade das comunidades de fé. Sempre estaremos entre os que resistem. E para aqueles que insistem em desviar o olhar, este é apenas o começo.