Mulamba, Juliana Strassacapa (Francisco El Hombre), Brisa Flow, Luana Hansen e Dominatrix se juntam em projeto musical de Católicas pelo Direito de Decidir que debate os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. O projeto também conta com participações de Ekena, Raíssa Fayet e Moyenei Valdés e com arte de Elisa Riemer. A ser lançado também em vinil, o álbum “Ventre Laico Mente Livre” estará disponível em todas as plataformas digitais a partir do início de setembro, antecipando a agenda de ações para o Dia Latino-Americano e Caribenho de Luta Pela Descriminalização do Aborto, que acontece em 28 de setembro.
Produzido por Elisa Gargiulo, o projeto trata de um tema delicado, mas de extrema importância no atual cenário. As mulheres que recorrem à interrupção da gravidez o fazem com a plena noção do que significa uma maternidade não desejada. Violência sexual, falta de acesso a contraceptivos, conflitos familiares, dificuldades econômicas e sociais ou o simples desejo de vivenciar a maternidade no momento oportuno e de forma planejada, fazem do aborto uma realidade recorrente no Brasil.
A Pesquisa Nacional de Aborto 2016 mostrou que uma em cada cinco mulheres brasileiras de até 40 anos já fez aborto. Destas mulheres, 67% já tinham filhos. Ter vivenciado anteriormente a maternidade possibilita que essas mulheres compreendam a importância de decidir sobre o melhor momento e em quais condições desejam ser mães novamente. Por outro lado, políticos fundamentalistas justificam a criminalização da interrupção voluntária da gravidez como uma defesa da família, pautados por uma visão religiosa moralista que vê a maternidade como destino de todas as mulheres. Contudo, “se todas as mulheres fossem punidas pela lei atual, teríamos hoje 3 milhões de famílias que ficariam sem mães, ou cujas mães teriam passado pela prisão em algum momento da vida”, como denuncia Débora Diniz. O discurso moralista esconde o desejo de controle sobre os corpos, consciências e destinos das mulheres.
Em “Mulheres, Raça e Classe”, Angela Davis diz que muitas mulheres negras e latinas, mesmo em momentos em que desejam ser mães, recorrem ao aborto em razão da situação de miséria em que se encontram. É neste lugar – sem creche, sem trabalho, sem saúde e com violência policial – que desejam ter seus filhos? A luta pela legalização do aborto deve incluir as reivindicações por uma vida digna, sem esterilizações forçadas, sem a violência perpetuada pelas mãos do Estado e com acesso ao trabalho e ao bem viver. As mulheres negras são as mais expostas à falta de segurança típica de abortos clandestinos, além de sofrerem mais com a dificuldade de acessar serviços públicos de saúde quando esses procedimentos levam a complicações que colocam suas vidas em risco. As mulheres negras, pobres, indígenas e nordestinas nos fazem refletir sobre o tema da justiça reprodutiva, dimensão ampliada da discussão sobre a luta pelo aborto legal e seguro.
Por isso, em meio a tantas vozes de mulheres que precisam ser amplificadas, as músicas presentes em “Ventre Laico Mente Livre” somam forças na luta. Enquanto a sociedade cala, as instituições julgam e os homens falam sobre o que não vivem na pele, as mulheres sofrem sozinhas. Nós, Católicas pelo Direito de Decidir, e as trabalhadoras da arte presentes neste projeto daremos, por meio da música, voz à dor e à resistência dessas mulheres, para que levantem a cabeça e sigam adiante sem o peso da culpa e com a mente livre.
Acompanhe o projeto por meio de nossas redes sociais e fique por dentro do lançamento de “Ventre Laico Mente Livre”: