“Aborto legal é o caralho!”, “Toda Mulher tem direito de não abrir as pernas e não de matar uma criança!”, “Método 100% infalível! FECHAR AS PERNAS!!!!”, “Faz assim então, se mata e deixa a criança viver!”, “Se você pensa assim, era melhor a sua mãe ter te abortado!”, “Bando de ‘retardada’, tomara que quando abortarem morram junto!”
Estamos vivendo um dos momentos mais críticos para os direitos das mulheres no Brasil – e, como nossa atuação é em favor dos direitos sexuais e reprodutivos, é comum sermos alvo de falas agressivas contra o aborto por meio de nossas redes sociais. Hoje é óbvio que não faz sentido proibir as mulheres de votar, de jogar futebol, ou que aplicar a tese da legítima defesa da honra em tribunais é um absurdo. Mas quanto tempo ainda vamos esperar para que seja um absurdo ouvir comentários como estes acima, que condenam o direito ao aborto legal? Que desumanizam mulheres e banalizam a violência em nome de uma moral retrógrada?
Ainda em 2021, essa moralidade que parou no tempo e é entrave para o avanço de direitos e a descriminalização do aborto, continua vigente. Em um país que não oferece adequadamente educação sexual nas escolas, acesso pleno a métodos contraceptivos e que não se responsabiliza pela saúde reprodutiva, criminalizar a interrupção da gravidez é um ato de crueldade.
Este é o mote da nossa nova campanha em defesa do aborto legal, seguro e gratuito no Brasil: só com a descriminalização é que vamos conseguir tratar a vida das mulheres com dignidade. É preciso legalizar para avançar. É isso que, enquanto católicas e feministas, queremos para este dia 28, em que é celebrado o Dia Latino-Americano e Caribenho pela Descriminalização e Legalização do Aborto.
A ofensiva dos conservadorismos religiosos contra os direitos sexuais e direitos reprodutivos representa entraves à garantia de acesso pleno à educação sexual, métodos contraceptivos e à interrupção da gravidez nos casos previstos em lei, em especial negras e pobres e do combate à violência.
Quando grupos religiosos conservadores e direitos reprodutivos se cruzam, o que temos visto é uma interferência desumana que reproduz violências, obstaculiza direitos e atrapalha o trabalho de profissionais no sistema de saúde. É comum a estes grupos rejeitar a pluralidade e negar a influência aprisionante, violenta e patriarcal em sua narrativa que evoca a religiosidade.
Estes atores agem de forma contundente na esfera política, formulando e propondo leis e políticas públicas pautadas pela moral religiosa. Pensar ações futuras e conjuntas com as mais diferentes expressões de fé é urgente e necessário.. Em maio, inclusive, lançamos a campanha “Eu, você e o Estado Laico: O que tem a ver?” com a intenção de provocar discussões e lançar novos olhares para o cenário atual, tendo em vista a relação entre religião, Estado e a garantia dos direitos das meninas e mulheres.
Em uma disputa de narrativa, desde 1993, nos colocamos como mulheres católicas que trabalham por justiça social, mudanças dos padrões culturais e religiosos que limitam a autonomia e a liberdade das mulheres, pautadas pela teologia feminista. Para nós, as motivações religiosas só reforçam nossa luta pela descriminalização e legalização do aborto. Não há nenhuma contradição entre ser católica e defender um direito. Diante desse cenário de ataques, seguimos em um imenso mar de articulações potentes. É preciso #LegalizarParaAvançar.