Por todas as mulheres!

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Por Católicas pelo Direito de Decidir

O que comunica mais: as palavras ou a mudança de comportamento? Sem dúvida, o que impacta mais a realidade é o que fazemos e não o que falamos. Por essa razão é tão difícil escrever um editorial sobre o “Dia Internacional das Mulheres”. Parece que tudo já foi dito e por muitas vezes. Mas, o fato é que as palavras podem nos ajudar a mudar nossa mentalidade e quando isso acontece, nossos comportamentos podem mudar também. É um processo longo, lento, mas mudar de mentalidade significa construir relações a partir de outra visão, diferente daquela que temos. Por essa razão, ainda temos algo a dizer neste dia.

Se olharmos para trás, já não há dúvida que o lugar das mulheres na sociedade e nas igrejas é outro. Hoje as funções sociais de homens e mulheres se misturam. Mas, se uma parte importante de nossa utopia é a construção de relações igualitárias entre homens e mulheres, ainda estamos muito longe de alcançá-la.

É justo reconhecer que, por inteligência ou solidariedade, muitos homens consideram as mulheres como seres humanos com igualdade de direitos. Muitos, porém, foram obrigados a mudar suas posturas e pensamentos machistas por causa do enfrentamento realizado cotidianamente pelas mulheres, que com muita luta estão conquistando seus espaços. Este é um ganho inestimável para toda a sociedade. Mas, também é preciso reconhecer que há inúmeras estruturas sociais enrijecidas, que estão ha anos luz de um processo de transformação, no qual homens e mulheres se respeitem verdadeiramente.

Dentre essas estruturas, um dos setores mais engessados em sua institucionalidade é o setor religioso. Vamos destacar particularmente a instituição católica, igreja na qual fomos formadas. A hierarquia católica resiste à mudança. Teme confrontar-se com a sabedoria e autoridade feminina, por isso não aceita a ordenação sacerdotal de mulheres. Já não tem mais argumentos plausíveis para manter sua estrutura piramidal, em pleno século XXI. Mas, ainda está aferrada na defesa do poder masculino, patriarcal e nas práticas de excomunhão de todos/as aqueles/as que não se dobram a este poder. Que traição ao Concílio Vaticano II! Como estão distantes dos princípios evangélicos!

Jesus foi um dissidente, não foi homem de instituição, apostou no movimento, na mudança de mentalidade, na quebra de preconceitos, na defesa absoluta da justiça social, de gênero e de raça. Hoje o catolicismo está recheado de práticas dissidentes. Na igreja não há um pensamento monolítico. Os padres casados se organizam; há vários casos de ordenação feminina, ministradas por bispos católicos, ainda que à revelia da autoridade eclesiástica; as mulheres católicas não aceitam mais a ingerência da igreja sobre seu corpo e sua vida sexual; pessoas homossexuais buscam e encontram na teologia elementos que dignificam sua vivência no plano do amor e do sexo; padres abusadores são chamados a prestar contas à sociedade. São sementes de mudança que estão germinando rapidamente. A igreja católica já não é a mesma. Como no tempo de Jesus, a mudança nasce a partir daqueles/as que têm menos poder, que para a instituição são os mais fracos.

É nesse contexto que comemoramos o Dia Internacional das Mulheres. Nós, mulheres católicas que continuamos fiéis aos nossos propósitos, nos unimos a todas as mulheres – biológicas ou não – e também nos somamos a todas as pessoas que querem construir um mundo mais digno e amoroso, independentemente de sua orientação sexual, identidade de gênero ou crença religiosa. Nossa utopia está mais viva do que nunca, lutamos por uma sociedade igualitária, não preconceituosa, democrática. Reconhecemos a enorme contribuição do feminismo laico para os processos de emancipação das mulheres. Reconhecemos a contribuição de homens inteligentes e solidários que nos acompanham neste caminho.

Expressamos nesse dia nossa particular preocupação com as mulheres do Haiti, as mulheres dos países árabes, as mulheres que sofrem violência e também todas aquelas que ainda não tiveram oportunidade de mudar sua mentalidade e continuam subjugadas ao conservadorismo religioso.

AMÉM!!!!