No último dia 25/05, a Irlanda, país com uma população de 78% de católicos/as, aprovou por referendo popular a legalização do aborto até a 12ª semana. A conquista foi possível após a derrubada da 8ª Emenda, texto de 1983 que previa o “direito à vida do feto”. Rígida e retrógrada, a lei previa pena de 14 anos de prisão para quem realizasse a prática em território nacional.
Símbolo do movimento irlandês pela legalização e descriminalização do aborto, Savita Halappanavar foi vítima dessa política conservadora. A dentista indiana faleceu em 2012, após seu pedido de aborto ter sido negado por médicos do hospital que a atendeu em processo de aborto espontâneo. Durante o atendimento, o quadro se agravou e Halappanavar teve uma infecção generalizada, que a levou a óbito, o que poderia ter sido evitado com a interrupção da gravidez.
Majoritariamente católico, os mais de 60% dos/as irlandeses/as deixaram de lado suas doutrinas religiosas e se debruçaram de forma realista sobre um assunto urgente e necessário: a vida das mulheres. A vitória na Irlanda reafirma a ideia de que o fundamentalismo religioso é prejudicial à cidadania e aos direitos humanos. E mais: é possível, sim, proferir sua fé, e defender a autonomia e a vida das mulheres. A Irlanda já percebeu isso. E o Brasil?
Por aqui, precisamos barrar retrocessos que coloquem em risco os direitos sexuais e reprodutivos femininos, em especial a PEC 181/15. Precisamos, também, evitar que sejam destruídos direitos já conquistados, como os serviços de aborto legal e o Sistema Único de Saúde (SUS). Falar de aborto legal é falar de saúde, de autonomia, de direitos, de dignidade. Não seremos moeda de troca em um novo processo eleitoral. Não deixaremos que passem por cima de nossos corpos e de nossa liberdade.